Praia

O jovem alto de cabelos negros caminhava pelas praias calmamente, respirnado o ar salgado e deixando o sol queimar sua pele alva, trajava uma camiseta social aberta, uma calça preta, e estava descalço. As mãos no bolso davam um ar pesado para ele, juntamente com o rosto, levemente irritado. A brisa do mar fazia seus cabelos esvoaçarem na direção contrária a ele, fazendo com que algumas vezes fosse obrigado a tirar uma das mãos do bolso para arruma-lo. Aproximou-se de uma parte rochosa, escalando-a sem muita dificuldade, e deitando-se sobre as rochas. Deixava com que a energia do sol, e do mar entrassem em si.

- Mãe agua...-

Murmurava cobrindo os olhos com o antebraço, e relaxando o corpo sobre as rochas quentes.

Deixava o braço escorrer pelo lado do rosto, seus olhos buscavam no céu azul uma calma, uma paz de espirito. Agua... Sentia. Controlava. Dominava. Sabia da jovem ali, e das lágrimas que escorriam de seu rosto. Aproveitou a proximidade para proferir poucas palavras:

- Lágrimas... Se não passam de agua, me pergunto por que geralmente vem com a dor. - Pausou, levando as mãos para a parte posterior da cabeça, apoiando-a sobre elas. - Imagino por que choras, menina.

O Filho da Agua respirou fundo, enchendo as narinas de ar salgado. Saudades dos tempos em sua vila, aonde era conhecido como um enviado de deus: Aquele que tudo vê, que tudo sabe, mas que nunca se encontra. Akiya Waterflow, o nome que adotou aqui na terra.

O dedo do jovem raspava a camada superior de areia da praia, fazendo um pequenino amontoado logo após o término do "corte". Parecia pouco se importar com aquilo, com aquele cenário. Buscava nos céus o tal "Deus" que lhe abandonou aqui, sem muito indagar sobre sua existência. Deixou as palavras escaparem pela boca, em um ritimo rouco e lento, a medida que os lábios se movimentavam.

- Se nem tu sabes, como saberia eu? Busque ao fundo de sua alma, e lá estarão as respostas.

Levantou então o corpo que ja comessava a queimar nas rochas, e despiu o tronco. Deu alguns passos lentos até a agua, e banhou tanto a pele quanto o tecido negro que envolvia-lhe a cintura. Mergulhou o indicador da mão direita, ficando de coques para isso, na agua do mar. Seus olhos azuis buscaram a imagem da menor sentada ali, que chorava. Buscava em seus olhos, a possivel resposta de todo aquele mal pela qual ela sofria.

Os olhos azuis piscavam pesados, demorando a voltarem a se abrir. Pegou um punhado de agua, jogando sob o próprio peito. Mantinha um sôm calmo, e ritimado saindo dos lábios, um sôm que parecia acompanhar as ondas, no rítimo do Mar.

- Se o vazio é em sua alma, não há motivo pelo qual viver. Do contrario, ela não está realmente vazia. Enquanto você tiver algo a proteger, nunca estará vazia.

- Encontre um novo significado da vida, então. - Simples. Tudo para o filho dos mares era simples, como entender o oceano para ele. Pessoas, o mar, não via muita diferença. A unica, era a que era completamente devoto ao mar. Seus olhos intensos tomavam uma coloração negra, preenchendo todo o globo. A pergunta... quem era...

- Sou um filho do mar. - Respondeu, com um pequeno sorriso no rosto. Apoiou a mão na areia sob a agua, e se sentou a beira do mar, sem se preocupar em molhar as vestes. Quem sabe, não purificasse sua alma, aquele gesto? - Você, uma menina triste, presumo.

O filho da agua puxou o ar, com força para os pulmões. Deixou ela vir até seu lado, e ficar ali. Má pessoa não era, apenas sofria. Sofria... Não conhecia bem esse sentimento. Deixou o timbre lírico da voz falar por si, palavras que talvez funcionassem como uma almofada aliviando aquela dor.

- Se for amada, não há motivo para viver? Viver para, e por esta pessoa. - Levantou a cabeça, observando o céu. Simples, assim como a vida. Esboçava um simples sorriso, pequeno, e ainda tímido. Ela não era realmente vazia, como os olhos do filho do mar.

- Posso eu te amar, neste caso então. - Disse em tôm neutro, ainda não buscava a imagem da moça. O céu era tudo o que via, ali. Era tudo o que buscava. Esperava pelo dia em que iria, ou voltaria para ele. Não sabia ainda, ao certo qual dos dois.

- Fico agradecido por ouvir estas palavras. - Calou-se. Quem sabe, naquele dia estrelado já tivesse dito mais do que devia. Se perguntava, se havia o feito.